sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Meu memorial de Leitura

Meu Memorial de Leitura

Atualmente, sou uma mulher com vida estável, aos meus 41 anos, com duas filhas maravilhosas e um marido que me incentiva e apoia. Sagitariana nascida no dia 03 de dezembro de 1969, formada em Letras, estou concluindo minha segunda graduação em Letras/Inglês.
Nasci em uma cidade do sudoeste goiano chamada Jataí. Em tal época, primogênita de mãe solteira com apenas 15 anos de idade, semi-analfabeta e com condições financeiras precárias. Por conta disso meu contato com a leitura se deu apenas quando fui à escola.
Aos meus 8 anos de idade, com o uso da cartilha “criança feliz” – ganhada na escola e que sempre carregava comigo – criei paixão pela leitura. Iniciei meus estudos na Escola Municipal David Ferreira, uma pequena escola que também dava seus primeiros passos com apenas quatro salas de aula.
Estudar foi algo que me cativou e em pouco tempo aprendi a criar grande apreço, principalmente em atividades relacionadas à leitura. Para exemplificar, ainda tenho memórias de um livro que marcou minha infância: a Ilha Perdida, de Maria José Dupré. A história se inicia com dois garotos que passavam suas férias em uma fazenda onde encontravam um pequeno rio que resolvem apelidar de “Filhote do Paraíba”.
E este foi uma de muitas “faíscas” a despertar a minha imaginação para diferentes viagens imaginárias.
Meus estudos foram integralmente em escola pública e tudo relacionado à leitura era em torno de atividades desenvolvidas pela professora. Minha mãe jamais havia me incentivado a ler, e não a culpo, pois ela também não havia sido incentivada àquilo. Neste contexto, me identifico com o curta “ Vida Maria”; porém vejo um desfecho diferente para ele: eu vi, vivi, mas venci.
Trabalhando como cabeleireira, fiz vestibular em duas universidades diferentes, nas quais fui aprovada, mas por dificuldades financeiras tive por optar pela Universidade Federal de Goiás, Campus de Jataí onde cursei Letras com habilitação em português- Literaturas.
Logo que comecei a faculdade, descobri estar grávida e essa foi a razão maior da minha luta – precisei mostrar para o mundo que a história não iria se repetir. Estudei grávida e, quando minha filha nasceu, eu a levava para a faculdade. Havia noites que, enquanto ela dormia, eu abria o livro para estudar e quando eu ia dormir, ela acordava.
Em meu segundo ano de faculdade consegui um contrato para lecionar Português na escola onde cursei o segundo grau, a Escola Estadual Nestório Ribeiro. O ano era de 1992, com dois empregos, uma filha e faculdade, eu precisava ser uma super mãe e uma super aluna. Pois durante os estudos me deparei com uma professora que me desafiou não apenas a enfrentar as lutas que a vida havia me imposto, mas provar a mim e a todos que sou capaz intelectualmente.
Minha formatura foi como se eu tivesse ganhado uma competição acirrada e o diploma, o troféu a provar minha vitória. A emoção que tive foi comparada ao nascimento de minhas filhas, lágrimas e sorriso se misturavam em minha face enquanto via o filme da minha vida passando diante de meus olhos, e minha mãe a me aplaudir como se em sua ação estivessem os dizeres “o seu futuro será diferente”.
Hoje sou concursada pelo Município, tenho duas especializações e estou finalizando minha segunda graduação em Letras/Inglês. E assim como na infância, cada leitura é aquela mesma viagem imaginária da ilha perdida, incorporando cada personagem, cada situação, cada palavra, ponto ou vírgula.
Minha história de vida se mistura a muitas outras, mas juntas são o retrato de uma sociedade de injustiças sociais, crianças que são excluídas socialmente por outras, ou como eu, feridas com perguntas como “quem é seu pai?”, algumas vezes acompanhadas de risadas maldosas por toda a vida. Não culpo a sociedade pelo que vivi, mas muito agradeço pela experiência e oportunidade de crescimento e provação. Pois apesar das dificuldades ainda sou capaz de sorrir assim como a menina sapeca que um dia fui. Mas agora amadurecida, determinada, forte, feliz e satisfeita pelos objetivos e vitórias que alcancei. As lembranças... essas me fazem ver que eu posso tudo n’Aquele que me fortalece.